A decoração afetiva é intuitiva e autoral

“Não importa quais ferramentas você use para criar, o verdadeiro instrumento é você”

Por muitas vezes questionei sobre a minha capacidade em criar espaços significativos e de bem-estar em lugares que morei. Lembro que lá em 2009, quando fui morar no Rio de Janeiro, o primeiro apartamento era pequeno, quente e velho. Consigo experimentar o sentimento de decepção quando abri a porta escura de madeira e comecei a caminhar por aqueles cômodos. Foi um lugar escolhido às pressas pelo meu companheiro, estávamos chegando de uma transferência profissional de São Paulo.

Diante daquela situação, que pra mim parecia desesperadora estando grávida (o quarto do nosso filho só cabia o berço, a cômoda e um adulto por vez), algo em mim estava prestes a mudar: pesquisei sobre soluções que coubessem em nosso orçamento e criei um blog de decoração para compartilhar minha curadoria e as pequenas modificações que fiz através do “faça você mesmo”. Fomos para outro apartamento logo após o nascimento do bebê, e lembro que meus primeiros posts no “A casa que a minha vó queria” foi mostrando o quartinho minúsculo de Vinicius. E sim, eu estava feliz pra caramba com o resultado.

A insatisfação me impulsionou para o ato de criar e me conectou a muitas pessoas naquela época através da internet. O apartamento indesejado tornou-se o nosso primeiro lar como família, e o blog, modificou completamente a minha vida, colocando-me num vasto ambiente criativo até os dias de hoje.

“Embora os artistas não tenham consciência disso, a obra final é o subproduto de um desejo maior. Não criamos para fazer ou vender produtos materiais. O ato da criação é a tentativa de entrar num terreno misterioso. O anseio de transcender”. Rick Rubin.

Então voltamos ao princípio: Uma decoração afetiva não está disponível no ecommerce ou no Pinterest, ali estão apenas os produtos e referências de uma descoberta muito maior. Das tantas vezes que me vi com recursos limitados, foi a capacidade de confiar no meu poder transformador, usando as respostas que surgiam dentro de mim (podemos chamar de “pistas” ou “intuição”), que me levaram para lugares mais confortáveis de viver.

Como virar essa \”chavinha\”?

Não acredito em fórmulas, mas creio em processos.

Falamos um pouco no post anterior sobre a nossa capacidade de conexão com a natureza, onde ela servirá ao nosso espírito, e o que serve a ele, consequentemente refletirá em nossa capacidade em produzir arte. Perceber-se como parte de um todo maior que está em constante movimento e regeneração. Conectar-se à sua criança, com uma visão mais aberta de comparações e julgamentos.

Rejeitar soluções prontas e investir na sua própria energia criativa, vivenciando sua autonomia e possibilidades por meio do autoconhecimento.

Vamos olhar pra dentro?

Acho engraçado quando escuto que a decoração afetiva é a que conta a nossa história. O problema é que quase ninguém realmente quer contá-la, principalmente, se os anos vividos foram de traumas ou de escassez. Não seria mais adequado entender o que acontece dentro de nós, acolhermos e encontrarmos um tesouro de expressão artística surpreendente?

Em nenhum momento estou dizendo pra que você tenha uma casa com dores e tristezas expostas, mas estou te fazendo um convite pra que você faça um contraponto com aquilo que é motivo de desamparo em sua vida, para que isso não mais permaneça ao seu lado.

Hoje sei que, posso morar numa casa confortável de madeira no interior de Pernambuco ou em um apartamento minúsculo na zona oeste do Rio de Janeiro. Sou capaz de me sentir em casa através da capacidade de transformá-la em lar. Estou segura que posso fazer isso, independente de onde eu esteja morando e quais recursos tenha em mãos.

Muitas outras perguntas fazem parte da construção de um repertório autoral: Estamos fazendo escolhas superficiais e impostas ou de fato nos conectando com nosso mundo interior pra contar sobre o que nos afeta?

É muito mais rico construir sua decoração usando-a como uma ferramenta de autoconhecimento, com resultados verdadeiramente cheios de significados.

0 comentário em “A decoração afetiva é intuitiva e autoral”

  1. Muito inspirador! Estou reformando o meu ape, e quando comecei a pensar sobre isso me senti perdida, queria seguir todas as tendências, mas nenhuma parecia se identificar verdadeiramente comigo. Por isso pesquisei e tentei me conetar com a minha essência. Agora estou usando um aplicativo de decoração (Planner 5D) onde planejo toda a decoração de acordo com o que vou sentido, testo as ideias e me imagino em minha casa e aos poucos o sonho se tona real.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *