Criei o A casa que a minha vó queria quando tinha 25 anos, era casada com o Leo e morava no Rio de Janeiro. O blog me conectou a tantas pessoas, de tantos lugares diferentes, que só quem usou um orelhão de ficha pra falar menos de dois minutos com alguém em outros tempos, consegue ter noção do quão empolgante isso pode ser. Tantas trocas e novas amizades surgiram, que mesmo com os desdobramentos da vida ao longo dos anos, ainda estamos nos perdendo e nos reencontrando desde 2009.
Naquela época, leitores chegavam pelo nome da página e o sentimento nostálgico e melancólico que o título deixava no ar. Uma vó sem casa. Se ela queria é porque nunca teve. Logo uma casa de vó, um lugar tão presente na nossa cultura, onde tantas e tantas avós recebem seus netos no fim de semana. Algumas leitoras me enviavam e-mails com histórias e muitas lembranças bonitas e tristes.
Uma neta órfã pela distância, contando também suas próprias histórias, fazendo uma curadoria de ideias e compartilhando seus pequenos progressos domésticos. A construção de um lugar onde todos temos direito, uma casa pra existir em completude, para testar habilidades, para criar memórias, para ser autônomo após tantos anos morando na casa de voinha.
Não existia nenhuma pretensão em criar uma página que tivesse muitos acessos, mas depois de uma semana estava comemorando cinquenta visitas naquela página tão modesta, num layout amador. Passava o dia entre o quarto e o banheiro, sentada na mesinha do computador e tomando duchas frias pra aliviar o calor com aquela barriga, grávida de oito meses. No segundo mês já contava com mais de dois mil acessos, após seis meses, duzentos mil visitantes diários, após alguns anos, lá pelo quinto ou sexto, um milhão de pessoas acessavam o blog todos os meses.
Nosso bebê nasceu e poucos meses depois estávamos prontos para mais uma mudança. Surgiu a oportunidade de irmos para um outro apartamento maior, com uma árvore na frente e varanda. Estávamos em uma localização melhor, os quartos tinham ar-condicionado, uma área pra colocarmos o jornal que a cachorrinha usava para suas necessidades. A vida fluía com mais leveza, a rotina já estava mais definida, o novo ap proporcionava mais conforto e o bloguinho começou a trazer seus frutos, já conseguia monetizá-lo, permitindo fazer novos planos.
No mesmo ano se popularizava o Twiiter, onde uma turma de mães compartilhava suas experiências com seus bebês. Foi lá que conheci Anne Pires, designer e moradora de Campinas. Juntas criamos o Estúdio Cereja, uma loja virtual de pôsteres e quadros coloridos. Foi um sucesso. Parcerias e oportunidades com o blog também surgiram, e foi então que começamos a trabalhar com marcas, receber convites pra eventos, presentes (o que hoje chamam de recebidos) e uma rede de contatos.
Já tínhamos morado em São Paulo, nos mudado para o Rio e tínhamos uma criança de dois anos sem uma rede de apoio. Sou pernambucana e estava longe de casa, queria voltar pra casa. Fazia algumas viagens por ano pra visitar minha vó e meus familiares próximos, mas a minha única vontade era poder criar meu filho distante das violências de uma cidade grande. Queria vê-lo conviver com os avós, com a minha irmã, correr pelas ruas de terra da minha infância. Então, mesmo sabendo que as chances profissionais seriam muito maiores se eu continuasse no Sudeste, doamos tudo o que tínhamos e arrumamos as malas.
Meu pai costuma dizer que nos falta um pouco de ambição e visão de negócio, ele tem razão. Todas os outros blogueiros que também surgiram naquela época faziam o caminho contrário. Quem iria se enfiar num interior do Nordeste naquele burburinho? Fiz catálogo de home center, fui a bastidores de TV, meus tutoriais foram publicados em sites como O globo, matérias em revistas, entrevistas pra outros portais e até publicação no glorioso e mundialmente conhecido, Apartment Therapy. Incrível como absolutamente nada daquilo, era visto por mim, como algo muito atrativo, que pudesse trazer muito reconhecimento e dinheiro, se fosse bem administrado.
Chegamos em Pernambuco com algumas malas de roupas, o essencial. Lembro que tiramos uma foto na estação do metrô brincando de retirantes, e realmente não tínhamos nada além daquilo. Logo encontramos uma casa pra morar, mobiliamos com o básico e com o passar dos dias decoramos do nosso jeito.
O blog continuava com muitos acessos, os publieditorias, artigos pagos de marcas, parcerias. Continuávamos mostrando tudo que fazíamos de decoração na nossa nova casa, desde a pintura das paredes até os móveis que Leo desenhava e construía. Envelopamos geladeira, criamos adesivos de azulejos para as paredes, transformávamos objetos reciclados, criamos todos os móveis do nosso quarto do zero. Éramos uma dupla empenhada na construção de um lar, e logo depois, estávamos desenvolvendo produtos, como o adorável pé palito de madeira maciça, tão almejado naquela época.
Criamos um negócio novo, lançamos uma loja online, viajamos, e após dois anos, decidimos ter um novo bebê. Logo após ele nascer, estávamos mudando mais uma vez pra uma casa maior e que comportasse também uma oficina de marcenaria e a nossa empresa. Tínhamos um terraço enorme, uma casa confortável, piscina, salão de festas, quintal. Compramos um carro com sete lugares. Nessa mesma época inauguramos uma loja física na cidade com o mesmo nome do blog, um espaço encantador.
Mas àqueles anos foram tão intensos, que não havia como negar que estávamos muito cansados com a rotina. Não lembro de ter cuidado do meu puerpério com carinho, tínhamos muito, muito trabalho, como nunca antes. Ações grandes de publicidade que renderam até comercial de tv. O tempo que nos restava em família, negociávamos os cuidados dos nossos filhos, foi muito exaustivo. No primeiro semestre de dois mil e quinze, nosso casamento acabou, nossa empresa também chegou ao fim, e o blog seguiu apenas respirando com ajuda de aparelhos, risos.
Passamos quase dez anos distantes, vivendo vidas completamente diferentes e opostas. O nosso contato se restringia a assuntos referentes aos nossos filhos, nada mais. Até que, há dois anos, abrimos oportunidade para o diálogo, e nos ouvimos, assentamos os nossos corações à compreensão das questões de cada um, do passado e do presente. Restabelecemos o nosso vínculo, não mais romântico, mas de cumplicidade, de pais dos nossos filhos, de amigos que sempre fomos, de primos (nascemos na mesma família), de parceiros de trabalho.
Estamos aqui, de volta.
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